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Cordas para violão NÃO SÃO tudo a mesma coisa! - Parte 2


No artigo anterior deste tópico falei sobre os diferentes tipos de construção de cordas para violão e guitarra. Agora vou falar um pouco sobre os diferentes materiais existentes e como eles afetam o som do instrumento.

Provavelmente, o fator isolado mais importante no que diz respeito ao timbre e ao desempenho das cordas é o material utilizado na fabricação das mesmas. Todas as cordas, sejam elas para guitarra, violão folk ou violão clássico, fazem uso de uma variedade de metais e ligas (no caso do violão clássico são usados ainda outros materiais, como nylon, seda, etc.) em sua composição. Os diferentes materiais afetam diretamente as características do som produzido, por conta das diferentes propriedades acústicas e magnéticas dos mesmos, e também afetam direta ou indiretamente a vida útil das cordas.

 

Guitarra

Encapamento niquelado versus níquel puro

O aparecimento dos captadores magnéticos lá atrás nos anos 50 levou ao desenvolvimento paralelo da tecnologia de fabricação das cordas para guitarra. Nesta época (anos 50 e 60), a maioria dos encordoamentos combinavam cordas lisas com cordas feitas de um núcleo de aço sólido encapadas com fio de níquel puro. O níquel é uma liga mais fraca do que o aço, magneticamente falando, de modo que o volume do som resultante é mais baixo se comparadas às cordas modernas. Embora isso possa parecer uma desvantagem, na prática não era pois os captadores podiam ser ajustados bem próximos às cordas sem com isso comprometer a qualidade do som, resultando em uma tocabilidade mais dinâmica do instrumento, ou seja, mais sensível às menores variações de ataque da palhetada. Pense como se o captador fosse um microfone, apontado bem pertinho para a corda, captando assim os menores ruídos. Basicamente todos os heróis da guitarra desta época gravaram e tocaram com cordas de níquel puro. Por volta da década de 70 em diante e com a evolução dos gêneros musicais, o encapamento de níquel puro gradualmente deu lugar ao encapamento feito com aço niquelado, cujas propriedades magnéticas são mais fortes resultando em um som mais alto e mais brilhante. Como a vibração destas cordas gera uma maior interferência no campo magnético produzido pelo captador, os fabricantes de guitarra passaram a regular os captadores mais afastados um pouco das cordas, especialmente no caso de captadores de bobina única (single-coil), para não gerar sons indesejados. Se por um lado se perdeu um pouco de dinâmica, por outro lado se aumentou a potência do som gerado. As cordas de encapamento niquelado dominam o mercado hoje em dia pois respondem mais adequadamente às necessidades dos estilos musicais atuais, ainda que muitos fabricantes produzam também as cordas “vintage” de níquel puro para aqueles que buscam um timbre mais adequado aos “velhos clássicos”.

Encapamento de aço inox

Ainda nos anos 70, outro material passou a ser utilizado com sucesso na fabricação das cordas encapadas de guitarra – o aço inoxidável de alta qualidade, que por ser mais resistente à corrosão que o aço comum, torna desnecessário o processo de niquelamento. Além da vantagem da durabilidade, as propriedades magnéticas deste material produzem um som brilhante, claro e alto, características essas bastante desejadas hoje em dia já que a guitarra assumiu um maior protagonismo na musica. Por conta de gerar maior interferência no campo magnético, o uso de cordas de aço inoxidável torna recomendável um ajuste na regulagem de altura dos captadores bem como um aprimoramento da técnica de mão direita do guitarrista, já que a atração magnética entre as cordas e os captadores funciona nos dois sentidos. Se a atração for muito forte, como quando os captadores estão muito próximos e/ou o ataque da palhetada (ou “dedada”) for muito forte, o campo magnético acaba atraindo (“puxando”) a corda impedindo assim que a mesma vibre com a amplitude que poderia, com resultados indesejados e geralmente não musicais.

Encapamento de aço banhado a ouro

Mais recentemente, alguns fabricantes inovaram ao produzir cordas com encapamento de aço de alta qualidade banhado a ouro. Por se tratar de aço inox, o timbre resultante é brilhante, claro e alto, mas segundo o fabricante o banho de ouro oferece também uma proteção ainda melhor contra os efeitos da corrosão e também atende aqueles que sofrem de alergia ao níquel.

Calibres comuns para cordas de guitarra

Embora não exista um padrão formal entre os fabricantes no que diz respeito à nomenclatura adotada, a tabela abaixo serve como um guia:

Além disso, alguns fabricantes oferecem encordoamentos "híbridos". O conjunto Light Top / Heavy Bottom, que combina as três cordas lisas do jogo Regular com as três cordas encapadas do jogo Medium, é o encordoamento híbrido mais popular.

Essa combinação funciona bem para quem toca rock e faz uso constante de muito vibrato e bends, mas que também precisa de “peso” para os power chords, especialmente em afinação Drop-D. Falando em afinações alternativas, a popularidade de afinações um ou meio tom abaixo, muito usadas por guitarristas de heavy metal, levou os fabricantes à criar jogos de encordoamento "pesados" com corda G lisa, como por exemplo:

Como regra geral, cordas de calibre mais grosso produzem um som mais alto e mais rico, porém a tensão maior as torna mais pesadas para os dedos, o que pode ser ruim especialmente para iniciantes, além de exigir um esforço maior para executar vibratos e bends. Por isso guitarristas cujos estilos incorporam bends de um tom ou mais, e muito vibrato, tendem a usar cordas mais leves. No outro extremo do espectro, músicos de jazz experientes costumam usar encordoamentos pesados (.011” ou .012”), onde a tensão mais alta é percebida como vantajosa por seu timbre mais encorpado e rico, até porque amplos vibratos e bends são pouco utilizados no jazz.

O comprimento de escala do instrumento também desempenha um papel aqui. Apesar da diferença de tamanho entre a escala curta de uma Gibson Les Paul (24 ¾”, ou aproximadamente 628 mm) e de uma Fender Stratocaster (25 ½”, ou aproximadamente 648 mm) parecer pequena (20mm), é o suficiente para fazer o mesmo jogo de cordas parecer totalmente diferente aos dedos em cada uma dessas guitarras. Para uma corda de mesmo calibre, quanto maior o comprimento da escala maior será a tensão exercida. Por isso um encordoamento .010” fica mais leve em uma Les Paul do que em uma Strat; o inverso também é verdadeiro: um encordoamento .009” usado em uma Strat já fica muito mais “mole” em uma Les Paul. Apesar do calibre .009” ser indicado para a Strat e o calibre .010” ser indicado para a Les Paul, nada impede que se use o contrário, estando o instrumento regulado de acordo. Não tem certo ou errado neste quesito, é tudo uma questão de gosto pessoal. É importante apenas conhecer os efeitos para poder fazer uma escolha pelo encordoamento mais apropriado ao resultado que se está esperando.

É muito comum que guitarristas iniciantes comecem com encordoamentos mais leves e que paulatinamente busquem jogos de calibre maior à medida em que seus dedos se tornam mais fortes e sua técnica mais aprimorada, paralelamente ao desenvolvimento de uma melhor percepção do potencial que sua guitarra pode alcançar em relação ao timbre. Embora essa mudança possa exigir tempo e esforço intensos, geralmente é um processo recompensador. É muito menos comum o caminho inverso: voltar para uma corda muito leve após ter-se acostumado com cordas mais pesadas geralmente parece estranho aos dedos e aos ouvidos.

 

Violão Folk

Se as propriedades magnéticas são a consideração mais importante na avaliação e escolha de cordas para guitarra, para o violão acústico o mais importante são as propriedades sonoras do material utilizado na corda.

Bronze

Por muitos anos, a maioria das cordas encapadas de violão foi fabricada enrolando um fio de bronze em torno de um núcleo de aço. Estas cordas são frequentemente descritos como "80/20" indicando a composição da liga de bronze utilizada (80% de cobre e 20% de estanho), sendo a composição "85/15" uma variante comum. Cordas encapada com fio de bronze são conhecidas por seu som rico, nítido e alto. Cordas 80/20 normalmente apresentam um timbre um pouco mais “quente” (menos agudo) que as cordas 85/15.

Phosphor Bronze

Nesta variante moderna, o teor de cobre do fio de encapamento é aumentado para 90% ou mais, com a adição de até 1% de fósforo. Isso resulta em uma melhor resistência à corrosão e um som ainda mais quente. Cordas de bronze fosforoso são as cordas de violão mais vendidas atualmente.

Nickel & Steel

Esse tipo de material de fio de encapamento é mais usado em cordas feitas para guitarra acústica de jazz (archtop) equipada com captador magnético, na qual proporciona um som muito encorpado e quente. Em violões folk comuns é raramente utilizada, ainda assim somente quando estes são equipados com captador magnético, já que com captador piezoelétrico o som resultante tende a ser bastante fino, nasal e pouco musical.

Calibres comuns para cordas de violão

As cordas para violão são geralmente mais pesadas que as cordas para guitarra, sendo a corda G quase sempre encapada. Porque? Cordas mais pesadas apresentam maior tensão qualquer que seja a afinação, o que é necessário para o violão uma vez que a corda precisa gerar energia cinética suficiente para movimentar fisicamente o tampo do violão; em comparação, na guitarra a corda precisa gerar energia apenas para interferir satisfatoriamente no campo magnético produzido pelo captador, o que requer muito menos tensão. Pense! Como regra geral, quanto maior o corpo do violão mais pesadas são as cordas recomendadas para obter melhores resultados, já que a área do tampo a ser movimentada é maior. Violões modelo Dreadnought e Jumbo tendem a precisar de .012” ou .013”, enquanto violões menores de tamanho OM e 00 podem soar bem com .011” ou mesmo .010”, especialmente quando plugados. Encordoamentos mais leves do que isso quase nunca são usados, pois tendem a produzir som muito fraco e também a trastejar excessivamente.

A exemplo do que ocorre com cordas de guitarra, aqui também não existe um padrão formal entre os fabricantes no que diz respeito à nomenclatura adotada. A tabela abaixo serve como apenas como um guia:

Importante: Jamais utilize em violões cordas de calibre pesado (Heavy) em afinação padrão!

Observe que as cordas de calibre pesado (Heavy) tendem a exercer tensão excessiva no instrumento, resultando frequentemente em severos danos ao braço, tampo e cavalete.

Essas cordas só podem ser usadas, eventualmente, com o devido cuidado e atenção quanto às condições estruturais do instrumento estarem preservadas, apenas em violões grandes (Dreadnought e Jumbo, por exemplo) e ainda assim somente em afinações alternativas cuja tensão total (soma da tensão de cada corda na afinação utilizada) não exceda o valor recomendado pelo fabricante do violão. Por exemplo, nos violões que eu faço dos modelos citados acima, a tensão suportada gira em torno de 175-180lbs, ou 79-83kg, no máximo.

Alta tecnologia

Muitos guitarristas e violonistas gostam do timbre brilhante de cordas novinhas recém instaladas. Para alguns, apenas um show já é suficiente para as cordas perderem o som original. Depósitos de suor, gordura e sujeira são particularmente difíceis de remover das cordas encapadas e afetam rapidamente a qualidade do som e a tocabilidade até mesmo dos melhores instrumentos, resultando em um som sem graça e maior atrito com os dedos. Limpar as cordas imediatamente após tocar ajuda na durabilidade das mesmas, mas não faz milagre. Para quem precisa manter o mesmo jogo de cordas por muito tempo uma solução de alta tecnologia foi desenvolvida por alguns fabricantes. Alguns fabricantes optaram por um revestimento plástico ultra-fino projetado para selar a corda sem afetar o som. Há porém quem reclame que o som não é exatamente igual e do preço, normalmente de duas a três vezes mais caro normalmente. Porém com uma durabilidade de até cinco vezes em relação às cordas normais, o preço deixa de ser um problema. Em outro caso, um grande fabricante seguiu por outra linha no objetivo de obter maior durabilidade da qualidade do som, só que através de um processo de resfriamento rápido em nitrogênio liquido seguido por um retorno gradual à temperatura normal. O fabricante alega com isso que as cordas mantém o timbre brilhante por mais tempo que as cordas convencionais.

 

Violão Clássico

Até o início do século XX, as cordas para violão clássico, assim como de muitos outros instrumentos de corda, eram fabricadas a partir de intestinos secos de animais, as chamadas cordas de tripa. Embora o termo genérico "tripa" seja usado com frequência, a maioria das cordas era a rigor feita a partir de tripa de ovelhas. Felizmente para as ovelhas, hoje em dia estas foram quase completamente substituídas por cordas fabricadas com núcleo de nylon e encapamento de metal macio.

Cordas lisas

O material padrão usado para cordas de lisas de violão clássico (E, B e geralmente G) é um filamento sólido de nylon, de seção redonda.

Geralmente de cor transparente, alguns fabricantes fabricam essas cordas lisas de nylon com uma pequena porcentagem de carbono, o que resulta em uma corda de cor preta sólida e um som mais percussivo e rico em harmônicos, apreciado pelos músicos de flamenco.

Cordas encapadas

O núcleo da corda encapada de violão clássico consiste em um grande número de fios muito finos de nylon (no tempo da corda de tripa esses filamentos eram de seda natural), sendo o encapamento feito com um fio metálico de diversas ligas, sendo a liga mais usada a de cobre banhado a prata.

Tensão

Os encordoamentos para violão clássico são categorizados por tensão e não por calibre, porque, para um determinado calibre, diferentes tensões são obtidas alterando-se a composição química do nylon. As tensões mais comuns são Light, Medium, Hard e Extra Hard. Tal como acontece com as cordas de aço, maior tensão produz melhor som e mais volume, mas fica mais difícil de tocar.

Como existem uma grande diversidade de materiais usados na fabricação de cordas de violão clássico, que resulta em som e tensão muito diferentes, vou abordar em um artigo futuro uma análise mais aprofundada somente sobre os tipos de encordoamento para esse instrumento. Até lá!

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